sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Beira

Mas a minha alegria era motivada pela esperança que levava em ver a Luísa. Chegados a Nampula deixei o Alferes no Hospital Militar e perguntei-lhe a que horas o vinha buscar, respondeu-me que partíamos só depois do almoço, por volta das duas horas e até lá não precisava dos meus serviços, que almoçasse também e desse um passeio pela cidade. Eu voltei-me para ele e disse:

- Meu Alferes, eu não vinha a fazer conta de cá almoçar e não trouxe metambira§.

Ele voltou-se para mim e a rir-se pegou na carteira e deu-me cem escudos, para quem me está a ler pode parecer pouca quantia para um almoço, mas lá, num restaurante com dormida, pequeno-almoço, almoço e jantar pagávamos cento e cinquenta escudos



§ dinheiro em língua africana

domingo, 19 de dezembro de 2010

Ribaué III

Em Ribaué convivíamos praticamente só uns com os outros dentro do quartel, que distava cerca de dois quilómetros do pequeno povoado com poucas habitações de africanos e onde havia também uma pequena fábrica de produzir cordas que pertencia a um senhor natural de Vila Real, Portugal, um pequeno bar e um campo de futebol de onze, onde nós, por vezes íamos dar uns pontapés na bola e bebermos uns copos no dito bar, as palhotas que existiam eram habitadas por pretos que trabalhavam no quartel e alguns dedicavam-se a marceneiros, mas tudo com ferramentas manuais, onde eram exímios em fazer Cristos, crocodilos, jogos de chá, guarda-jóias, praticamente tudo o que faziam era respeitante a imagens humanas e animais selvagens. Aqui adquiri um jogo de chá composto por meia dúzia de cálices meia dúzia de chávenas e respectivos pires, um guarda-jóias, um açucareiro, um bule e um galheteiro, tudo feito em madeira de pau preto com as asas feitas de dentes de elefante, tudo feito manualmente, de fazer inveja a muitos dos nossos marceneiros que trabalham mecanicamente.