domingo, 12 de setembro de 2010

Ribaué II

O nosso Furriel Antero, chefe dos géneros alimentares, dizia-nos em Moçímboa, que era zona de guerra e que éramos muitos militares, que não tinha condições para comermos melhor, mas que quando mudássemos de quartel que já íamos comer bem, que íamos comer bem, que esperássemos com calma. Basta dizer que em vinte meses a sopa foi sempre igual, quatro ou cinco bagos de arroz, duas rodelas de cenoura, e o caldo a saber a sal, pois ainda não lhes disse que a água que bebíamos, comíamos e tomávamos banho, vinha do mar, mas ás vezes os filtros fintavam-nos e o comer era só sal, e quantas vezes ao tomarmos banho quando nos queríamos pentear o cabelo estava como que coalhado com o sal. Se o Furriel Antero prometeu, melhor cumpriu, aqui em Ribaué, havia sempre sopa de legumes e segundo prato, sempre com carne brava. Aqui já usávamos faca e garfo e claro a colher.

Em Moçímboa não havia colonos portugueses a trabalhar na agricultura visto haver guerra, os que tinham lá existido ou foram mortos ou, a maior parte deles, fugiram para o sul.

Aqui tínhamos um preto que morava na mata a cerca de cinquenta quilómetros de Ribaué, tinha duas armas do exército e caçava para a nossa Companhia. Já era caçador das outras Companhias que por ali tinham passado, usava uma gruta, que por sinal era muito fresca, onde guardava em quatro arcas térmicas, a caça e todos os sábados lá ia um condutor buscar as ditas arcas e deixar lá outras tantas, a primeira vez que lá fui levei um preto que era civil mas estava a trabalhar no quartel como alfaiate e lavagem de roupa (para lavar a nossa roupa havia aqui seis africanos) enquanto em Moçímboa pagávamos 50$00 por mês para lavagem de roupa, aqui não pagávamos nada, eles comiam e a Companhia é que acertava as contas com eles.

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