segunda-feira, 1 de março de 2021

Adeus, até um dia...


No dia 01/03/2021 o meu querido pai partiu deste mundo, o seu sonho de voltar a Moçambique não chegou a ser concretizado. As últimas notícias que chegavam de Cabo Delgado deixaram-no muito triste e tudo isso juntamente com a Pandemia do Covid 19 e consequente isolamento fizeram com que o seu coração não aguentasse mais. 

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Quase 40 anos depois

A medalha de prata, com uma fita da cor da nossa bandeira, guardo-a religiosamente na mala que sempre me acompanhou.

Há dias mostrei-a ao meu neto dizendo que um dia ficará para ele, para se recordar que o avô andou na guerra por terras do Índico. Aliás, quando há almoços de convívio da minha Companhia também vai e diz que foi à guerra do avô.


Medalha de Prata


sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Beira

Mas a minha alegria era motivada pela esperança que levava em ver a Luísa. Chegados a Nampula deixei o Alferes no Hospital Militar e perguntei-lhe a que horas o vinha buscar, respondeu-me que partíamos só depois do almoço, por volta das duas horas e até lá não precisava dos meus serviços, que almoçasse também e desse um passeio pela cidade. Eu voltei-me para ele e disse:

- Meu Alferes, eu não vinha a fazer conta de cá almoçar e não trouxe metambira§.

Ele voltou-se para mim e a rir-se pegou na carteira e deu-me cem escudos, para quem me está a ler pode parecer pouca quantia para um almoço, mas lá, num restaurante com dormida, pequeno-almoço, almoço e jantar pagávamos cento e cinquenta escudos



§ dinheiro em língua africana

domingo, 19 de dezembro de 2010

Ribaué III

Em Ribaué convivíamos praticamente só uns com os outros dentro do quartel, que distava cerca de dois quilómetros do pequeno povoado com poucas habitações de africanos e onde havia também uma pequena fábrica de produzir cordas que pertencia a um senhor natural de Vila Real, Portugal, um pequeno bar e um campo de futebol de onze, onde nós, por vezes íamos dar uns pontapés na bola e bebermos uns copos no dito bar, as palhotas que existiam eram habitadas por pretos que trabalhavam no quartel e alguns dedicavam-se a marceneiros, mas tudo com ferramentas manuais, onde eram exímios em fazer Cristos, crocodilos, jogos de chá, guarda-jóias, praticamente tudo o que faziam era respeitante a imagens humanas e animais selvagens. Aqui adquiri um jogo de chá composto por meia dúzia de cálices meia dúzia de chávenas e respectivos pires, um guarda-jóias, um açucareiro, um bule e um galheteiro, tudo feito em madeira de pau preto com as asas feitas de dentes de elefante, tudo feito manualmente, de fazer inveja a muitos dos nossos marceneiros que trabalham mecanicamente.

domingo, 12 de setembro de 2010

Ribaué II

O nosso Furriel Antero, chefe dos géneros alimentares, dizia-nos em Moçímboa, que era zona de guerra e que éramos muitos militares, que não tinha condições para comermos melhor, mas que quando mudássemos de quartel que já íamos comer bem, que íamos comer bem, que esperássemos com calma. Basta dizer que em vinte meses a sopa foi sempre igual, quatro ou cinco bagos de arroz, duas rodelas de cenoura, e o caldo a saber a sal, pois ainda não lhes disse que a água que bebíamos, comíamos e tomávamos banho, vinha do mar, mas ás vezes os filtros fintavam-nos e o comer era só sal, e quantas vezes ao tomarmos banho quando nos queríamos pentear o cabelo estava como que coalhado com o sal. Se o Furriel Antero prometeu, melhor cumpriu, aqui em Ribaué, havia sempre sopa de legumes e segundo prato, sempre com carne brava. Aqui já usávamos faca e garfo e claro a colher.

Em Moçímboa não havia colonos portugueses a trabalhar na agricultura visto haver guerra, os que tinham lá existido ou foram mortos ou, a maior parte deles, fugiram para o sul.

Aqui tínhamos um preto que morava na mata a cerca de cinquenta quilómetros de Ribaué, tinha duas armas do exército e caçava para a nossa Companhia. Já era caçador das outras Companhias que por ali tinham passado, usava uma gruta, que por sinal era muito fresca, onde guardava em quatro arcas térmicas, a caça e todos os sábados lá ia um condutor buscar as ditas arcas e deixar lá outras tantas, a primeira vez que lá fui levei um preto que era civil mas estava a trabalhar no quartel como alfaiate e lavagem de roupa (para lavar a nossa roupa havia aqui seis africanos) enquanto em Moçímboa pagávamos 50$00 por mês para lavagem de roupa, aqui não pagávamos nada, eles comiam e a Companhia é que acertava as contas com eles.

domingo, 1 de agosto de 2010

Ribaué

O quartel em Ribaué, em relação ao de Moçímboa da Praia, era de dimensão muito reduzida, o que também era compreensível, pois ali só estava a nossa Companhia, enquanto que em Moçímboa estavam 3 Companhias e um pelotão da intendência (depósito de géneros alimentares) e um de condutores Daimelers. 

quarta-feira, 16 de junho de 2010

A sair de Moçimboa


Nós, claro que passamos a andar tristes e com um pouco de medo. Pois nós com vinte meses de guerra já quase nos imaginávamos a regressar a casa sãos e salvos. Fui ter com o condutor Xavier e disse-lhe:

- Olha, se houver algum azar levas a minha mala e as minhas coisas e entregas aos meus Pais.

Pois o Xavier era o militar da CCS que morava mais perto dos meus Pais e tínhamos andado sempre juntos em quartéis na Metrópole:
CICA4 – Santa Clara – Coimbra, onde o Comandante da Unidade era o que mais tarde foi nosso Comandante de Batalhão, portanto teríamos sido eu e o Xavier os primeiros do nosso Batalhão a conhecê-lo, depois fomos para o R.C.6 – Porto, até que fomos formar o Batalhão a Santa Margarida.

Dizia eu que me fui despedir do Xavier e do resto do pessoal e embarcamos de avião com destino a Nampula, chegados lá, apresentámo-nos aos «adidos» e ficamos a aguardar notícias.

Passados alguns dias apareceu um Furriel de Moçímboa da Praia que estava numa Companhia que tinha ido render a 2727 que nos disse que vinha ter connosco para levantarmos as viaturas e para regressarmos a Moçímboa.

Não consigo descrever a alegria que sentimos ao ficarmos a saber que de facto não íamos para Mueda. 

terça-feira, 11 de maio de 2010

Da Vila Forte a Terras do Índico

Pequeno excerto do livro

"Com isto tudo o tempo ia passando até que chegou o mês de Agosto de 1973, pois é, nós já nos tínhamos esquecido do que tinha dito o tal guerrilheiro, que íamos ser atacados no dia seis de Agosto, que nós tínhamos pensado ser em 1972, até andamos a dormir nas valas, mas afinal o “turra” não mentiu e pelas quatro horas da manhã do dia seis de Agosto de 1973 fomos mesmo atacados, não mentiu em nada, nem no dia, só que nós pensávamos que fosse no ano transacto, mas afinal eles planearam o ataque, quase, dois anos antes. "

Encontro

No próximo dia 03 de Julho de 2010, vai se realizar mais um encontro do BCAÇ 3868 em Tomar.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009



“Para que os olhos vejam, quando o coração esquece
com um beijo cheio de ternura desta tua eterna amiga

Luísa